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Uso de inteligência artificial na dublagem e vozes originais de games

O uso de vozes geradas por IA tem se tornado cada vez mais comum no mundo dos jogos e um problema para os dubladores

Uso de inteligência artificial na dublagem e vozes originais de games

No fim do ano passado, houve um grande crescimento na utilização de inteligências artificiais (IA). Assim, elas podem ser úteis para muitas tarefas, desde escrever um simples texto até gerar vozes.

No entanto, a possibilidade de sintetizar vozes por meio de uma IA não agrada a todo mundo, deixando muitos dubladores preocupados com o futuro de sua profissão.

Dessa forma, a maioria dos dubladores de jogos são contra o uso de suas vozes em inteligências artificiais.

Alguns profissionais denunciam que, ao assinarem contratos para novos projetos, estão sendo obrigados a incluir cláusulas que permitem a síntese de suas vozes por meio de IA.

Assim, existe um temor de que essas vozes acabem sendo usadas no lugar dos verdadeiros dubladores, prejudicando as suas carreiras e futuras oportunidades.

Mas será que o uso dessa tecnologia pode ser realmente prejudicial? Quais os benefícios que esse tipo de IA podem trazer? A resposta dessas e outras perguntas estão no artigo abaixo. Confira:

Os benefícios das vozes feitas por meio de uma inteligência artificial

Não é uma novidade que o processo de expressar algumas linhas de diálogo pode levar semanas ou até meses, já que o processo de narração envolve horas de dublagem das vozes dos atores.

No entanto, a síntese de voz pode acelerar de modo bem significativo o processo de produção, economizando muito dinheiro.

O primeiro exemplo claro que tivemos da utilização desse tipo de IA foi no trabalho de voz de Darth Vader nas séries O Livro de Boba Fett e Obi-Wan Kenobi do Disney Plus.

Assim, os processos de dublagem foram feitos por uma IA, deixando de lado James Earl Jones, o dono da voz do vilão Sith.

No mundo dos jogos, a dublagem ocorre nos estágios finais do ciclo de desenvolvimento de um game.

No entanto, com a síntese de voz, é possível ajustar facilmente qualquer conteúdo de voz gravado para corresponder a um novo enredo junto com novos personagens do jogo.

Além disso, a gravação de sons reais de animais é um verdadeiro desafio.

Sem mencionar que imitar os sons certos dos animais também não é algo fácil. Portanto, com essas inteligências artificiais, qualquer um pode soar como um animal de verdade.

Mod de The Witcher 3

Há pouco tempo, vários fãs do jogo The Witcher 3 ficaram animados com uma nova adição. Apesar de não ser oficial, o mod A Night to Remember possui novos conteúdos.

Mas o que chama atenção é que também apresenta novas linhas de vozes.

Desse modo, o seu criador usou uma IA treinada no discurso do dublador Doug Cockle para gerar novas linhas de voz para Geralt.

A polêmica ficou ainda maior quando a Obsidian, desenvolvedora de jogos eletrônicos, lançou um vídeo sobre o seu trabalho com a Sonantic.

Desse modo, a apresentação mostrava o uso de vozes de IA antes de adicionar dubladores ao jogo.

Além disso, o vídeo também explica que a Obsidian usa as vozes de IA da Sonantic pois o desenvolvedor acha útil ouvir seu diálogo para descobrir o que funciona e o que não funciona.

Voltando ao mod de The Witcher 3, o seu criador usou um software chamado CyberVoice para criar novos diálogos e linhas de voz para Geralt.

Esse software é um produto do Mind Simulation Lab, com sede na Rússia.

Inclusive, vale lembrar que essa empresa também está por trás do CyberMind, que usa a inteligência artificial para formar personalidades digitais para personagens não jogáveis ​(NPCs).

Assim, o CyberMind fornece as informações sobre muitos monstros que vimos na franquia The Witcher e o CyberVoice dá voz a esse entendimento.

Problemas para os dubladores

De modo natural, esses avanços deixam os dubladores bem preocupados. Além disso é cada vez mais comum que as empresas insiram cláusulas que permitam que versões sintéticas sejam feitas a partir de suas vozes.

A notícia veio a tona por meio do Motherboard, que conversou com alguns profissionais para entender o que estava acontecendo.

Assim, o site trouxe a história de que os dubladores de jogos estão sendo solicitados a assinar seus direitos de voz para geradores de voz de IA administrados pela empresa ao assinar um novo projeto.

Alguns atores foram obrigados a assinar contratos com essas cláusulas embutidas.

Outros nem sabem que a cláusula existia. De qualquer modo, existe uma enorme preocupação de que essas vozes de inteligência artificial assumam os papéis dos atores.

Inclusive, isso pode ser realmente prejudicial para aqueles que estão tentando entrar na indústria.

Fryda Wolff, uma das dubladoras de Apex Legends, disse ao Motherboard o que as vozes geradas por IA podem significar para atores humanos, principalmente aqueles que trabalham com jogos e estúdios de animação:

– [Eles] poderiam se safar extraindo mais performances de mim alimentando minha voz com IA, usando essas performances geradas e nunca me compensando pelo uso de minha ‘semelhança’, muito menos informando minha agência de que isso foi feito – afirmou a dubladora.

Outros dubladores de longa data como Steve Blum, Kara Edwards e Stephanie Sheh recentemente usaram o Twitter para pedir aos fãs que informassem aos atores quando as suas vozes estivessem sendo usadas em aplicativos de voz de IA.

Falta de consentimento pode gerar mais problemas

Quando se trata de arte e vozes de inteligência artificial, o consentimento tem sido um dos principais pontos de preocupação.

Assim, na maioria dos casos, os artistas não querem fazer parte disso.

Desse modo, os fãs ou sites acabam fazendo essa escolha para eles, mesmo sem sua permissão. Isso traz uma série de questões e problemas.

Por exemplo, o que impede alguém de usar a voz de outra pessoa para expressar algo racista ou homofóbico sem o seu consentimento?

Em um artigo recente da Vice, quatro vítimas de voz gerada por IA contaram como a tecnologia foi usada em campanhas de assédio contra elas.

Para se ter ideia, um dos casos compartilhou informações privadas de atores usando uma voz gerada por inteligência artificial do Agente 47 da franquia Hitman.

Voltando mais no tempo, sites de voz de IA foram usados ​​para criar clipes de áudio da voz da atriz de Harry Potter, Emma Watson, lendo o Mein Kampf.

Havia Ben Shapiro fazendo comentários racistas sobre a congressista americana Alexandria Ocasio-Cortez e Rick Sanchez, de Rick and Morty, dizendo “Vou bater na p**** da minha esposa, Morty”.

Futuro das vozes geradas por inteligência artificial

No passado, o uso dessas vozes se limitava a vídeo de paródia do YouTube. Assim, os criadores de conteúdo produziam linhas extras de diálogo para uma celebridade famosa para aumentar o humor de seus vídeos.

Entretanto, as melhorias dessa tecnologia somada a falta de atualização nas leis, criou essa enorme dor de cabeça.

Além disso, vale lembrar que os serviços de síntese de vozes estão cada vez mais acessíveis.

Inclusive, muitos desses sistemas permitem a criação de réplicas de vozes com base em gravações pré-existentes, abrindo margem para a clonagem de vozes de pessoas públicas sem consentimento.

Para se ter ideia, a Microsoft, uma das maiores empresas do mundo, possui uma inteligência artificial que consegue replicar qualquer voz com amostra de áudio de apenas três segundos.

É necessário que sejam feitas algumas medidas para garantir que esta tecnologia seja útil de forma ética e legal.

Inclusive, deve existir o consentimento de todas as partes envolvidas no projeto.

Por fim, muitos sindicatos estão colaborando com os dubladores ao tentar garantir que a permissão para o uso de suas vozes seja um item obrigatório nas negociações de contrato.

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