Para a psicóloga Vivian Gasparini Ruani, formada pela PUC-SP com ênfase em Psicologia Corporal aliada a técnicas lúdicas e artísticas, “os videogames têm seus pontos positivos e negativos”, mas ressalta: “é sempre importante destacar que todos tem acesso a eles facilmente, e isso pode incluir pessoas que tenham consciência ou não de possíveis questões psicológicas ou psiquiátricas que atuem na forma de se relacionar com o ambiente que os jogos propõem. O jogo em si é muito útil para lapidar características como foco, atenção, concentração, estratégia, entre outros; aspectos estes que muitas atividades do nosso cotidiano nos treinam a desenvolver também, ou seja, podem ser utilizadas para uma convivência social saudável ou uma convivência adoecida e prejudicial ao entorno. A chave está na forma como a pessoa decide utilizá-la, portanto”, acredita.
Sobre as justificativas em associar o comportamento de um jogador de videogames à violência, Vivian diz: “o indivíduo pode até se sentir inspirado a cometer atos violentos iguais aos do jogo que ele admira, mas algo no funcionamento psicológico dele está disfuncional. Sentimentos como raiva e ódio devem ser canalizados de forma que não afete o outro ou a si. Os videogames podem dar um modelo ou meio para que o jogador atinja seu objetivo, mas o fato de escolher um meio mostra que a pessoa inicialmente já tinha um objetivo ou motivação”, afirma.
Ela complementa: “Pela idade, os jovens que praticaram o massacre de Suzano já passaram pelo estágio onde o ser humano aprende a distinguir realidade de fantasia, o que ocorre quando ainda criança. Os jogos tem um poder catártico, é um jogo exatamente por dispor espaço para a fantasia, supondo que saibamos distinguir da realidade. Quando uma criança, um adolescente ou um adulto está jogando, ele está se colocando em um papel e isso tem um poder de aliviar tensões, algo que o ser humano tem necessidade. Inclusive, o vídeo game é um dos lugares úteis para se fazer isso. É como contar uma piada, existem possibilidades de darmos risada e aliviarmos uma tensão sem utilizar o artifício da piada para uma prática de bullying, por exemplo”, explica.
A psicóloga alerta para a discussão sobre o tema: “gostaria de considerar a necessidade da conversa sobre o assunto, sobre como as pessoas se sentem com o acontecido. Outro ponto para ressaltar, é considerar o individuo mais em sua totalidade, porque existem tantas milhares de coisas que nos rodeiam e compõem que podem ser consideradas e não apenas o jogo. Milhares de jovens jogam e esses dois especificamente fizeram isso, mas outros milhares não. A educação é uma chave fundamental”, finaliza.