Importante: análise feita com base na versão de demonstração do jogo. A versão completa será lançada em 29 de setembro de 2022 para PS4/PS5 e 11 de novembro de 2022 para PC via Steam.
Valkyrie Profile é um RPG conhecido principalmente por seus 2 primeiros jogos, um no PS1 e outro, Valkyrie Profile 2: Silmeria, no PS2. Além desses, existe um jogo da série para Nintendo DS, Valkyrie Profile: Covenant of the Plume e existiu também um spin-off para Android e iOS, chamado Valkyrie Anatomia.
Os 2 primeiros jogos seguem o estilo que fez a série ficar conhecida: exploração de calabouços em 2D com batalhas em turnos. Porém, o grande diferencial era justamente o sistema de “combos” nas batalhas, onde cada botão controla um personagem, de forma que os ataques podem ser sincronizados contra os inimigos.
Já o jogo de Nintendo DS conta com batalhas que misturam RPG estratégia juntamente com o sistema de combos existentes nos 2 primeiros jogos. Por fim, o jogo mobile seguia o padrão de jogos “gacha”, também mantendo o sistema de batalhas com combos (este último teve os servidores desativados em 2020).
Durante muitos anos os fãs pediram por algum novo jogo da série, principalmente pelo fato que, originalmente, seriam contadas as histórias de 3 Valquírias: Lenneth, Silmeria e Hrist.
Então, em março de 2022, Valkyrie Elysium teve seu anúncio durante o evento State of Play, da PlayStation.
Logo após seu anúncio, foi revelado que o jogo seria um spin-off, e não uma continuação direta. Além disso, foi possível ver no trailer que o jogo seguiria o estilo mais voltado para ação, diferente do já conhecido sistema de batalhas por turnos.
Com estas diferenças, a melhor maneira de saber o resultado seria jogando. E agora, antes mesmo do lançamento oficial, no dia 15 de setembro foi disponibilizado VALKYRIE ELYSIUM (Demo Version) para PS4 e PS5. Veja a seguir as impressões iniciais.
Conteúdo da demonstração
Logo ao iniciar o jogo, aparece uma mensagem informando que é uma versão em desenvolvimento, e que pode ter mudanças até a versão final.
A versão de demonstração conta com o primeiro capítulo completo e também, com duas missões secundárias. Antes disso, tem também o tutorial do jogo, que funciona como uma missão introdutória, onde aprendemos os movimentos do jogo, exploramos e, inclusive, enfrentamos um chefe no final.
Essa estrutura da demonstração é muito parecida com a utilizada antes do lançamento de Trials of Mana, jogo que também é da Square Enix. Na época, foi possível jogar a introdução e o capítulo 1 do jogo antes do seu lançamento. Além de jogar, era possível também transportar os dados salvos da versão demo para a versão completa do jogo. No caso de Valkyrie Elysium, encontrei informações na internet que confirmam a mesma funcionalidade, porém ao iniciar o jogo, não vi nenhuma informação deste tipo (em Trials of Mana, a mensagem surge logo ao iniciar a nova partida).
Indiferente se será possível ou não transportar os dados, o mais importante é que nesta versão é possível sentir um pouco do que teremos no jogo final, contando com exploração e, principalmente, sistema de batalha.

Gráficos de Valkyrie Elysium
Aqui iniciamos o primeiro ponto polêmico do jogo: a escolha dos gráficos.
A série Valkyrie sempre seguiu por caminhos diferentes quanto a escolha dos gráficos. No primeiro jogo, de PS1, já era comum os desenvolvedores seguirem com gráficos 3D, porém, Valkyrie Profile seguiu como um jogo primariamente 2D, isso em 1999, já no final da geração do PS1.
Então, em Valkyrie Elysium, decidiram utilizar gráficos 3D com o estilo Cel Shading, onde a imagem final tem um aspecto de desenho e, normalmente, conta com bordas “grossas” para reforçar a aparência como um desenho.
O problema é que, logo no primeiro trailer, alguns elementos pareciam destoar no ambiente. E assim, no segundo trailer houve uma melhora e agora, na versão de demonstração, parece que tentaram amenizar ao máximo o filtro cel shading, pois é pouco notável durante o jogo devido a velocidade que as coisas acontecem na tela.
Contudo, ainda existem alguns pontos onde é notável a borda “grossa” do filtro, principalmente ao ver montanhas no horizonte do jogo. A verdade é que, o resultado final, ficou bem abaixo do esperado. Digo isto pois, pelo menos nos jogos anteriores, existia uma preocupação em ter um gráfico diferente, mas ao mesmo tempo, estes eram bonitos ao ponto de serem marcantes no jogo.
Hoje, na demonstração de Elysium, a sensação é que o jogo está um pouco genérico. Nem mesmo o nome da Valquíria é citado (que, de acordo com informações oficiais, é uma nova Valquíria chamada Maria). Ainda assim, não digo que o jogo é feio, mas espero que tenha um pouco mais de polimento na versão final.
Por fim, a demonstração também tem muitos problemas de “pop-ins” na imagem (efeito dos objetos surgindo no cenário quando já estamos nele). Este último, certamente será resolvido na versão final. Mas ainda assim, é um pouco estranho, ainda mais que estava jogando na versão de PS5, onde o desempenho deveria ser melhor.

Recursos e habilidades
Na estrutura de recursos do jogo podemos notar a grande influência de jogos hack’n slash, como por exemplo, Devil May Cry.
Conforme derrotamos inimigos, é possível coletar gemas e almas. Essas possuem várias cores, sendo algumas delas de efeito imediato (almas verdes recuperam a barra de vida, por exemplo), e outras, para utilizar em melhorias para as armas e para a própria Valquíria.
Então temos mais um ponto que muitos podem achar estranho. Pois, diferente dos outros jogos da franquia, aqui a personagem não sobe de nível ao derrotar inimigos e ganhar experiência. Ao contrário disso, é necessário juntar as gemas para posteriormente, escolher as habilidades que darão mais poder. Essa é, inclusive, mais uma similaridade com jogos hack’n slash, onde você coleta itens e, posteriormente, desbloqueia poderes e habilidades.
Ainda assim tem um diferencial interessante: ao invés de um único item (como os glóbulos vermelhos dos God of War antigos), é necessária uma combinação de várias gemas e almas, tanto para as habilidades da Valquíria, quanto para aprimorar suas armas.
Outro detalhe importante é que, para as armas, só é possível fazer as melhorias quando estiver em um save point. Não é algo que atrapalhe, mas é interessante esse contraste, pois para as habilidades da personagem, é possível fazer em qualquer momento, bastando ter as gemas necessárias e entrar no menu do jogo.
Agora, um ponto que está bem estranho é a árvore de habitantes. Pelo menos na demonstração, ela é totalmente sequencial em seus três pontos: Ataque, Defesa e Apoio. Além disso, o jogo não deixa claro a necessidade dos 2 pulos, que é uma habilidade de apoio, mas que é bem importante para melhorar a exploração.
E finalmente, ainda existe mais um problema. As gemas são mantidas apenas se jogar o capítulo inteiro. Ou seja, entrar de novo no capítulo e voltar para Valhalla num save point, faz você perder tudo que ganhou até então. Isso pode acabar tornando a tarefa de fortalecimento um tanto chata, pois será necessário seguir até o final e enfrentar novamente o chefe da área, exatamente igual quando jogou a primeira vez.

Batalhas, nobres Einherjar!
Ok, neste ponto temos que pensar sempre adiante, certo? Lançar um novo Valkyrie e pedir que o jogo mantivesse a batalha em turnos, seria excesso de saudosismo.
Então, se pensarmos no sistema de combos existente nos jogos anteriores, a melhor escolha seria realmente um jogo mais voltado para ação, certo?
Bom… Mais ou menos! Do meu ponto de vista, o pior problema é que a batalha ficou genérica. Ainda temos os einherjar, que na mitologia nórdica são os guerreiros de Odin, guerreiros mortos recolhidos pelas Valquírias. Porém, eles não são utilizados durante toda a batalha, como nos jogos anteriores, e sim, funcionam como “invocações” e gastam uma parte da barra de alma (barra azul abaixo da barra de vida).
O problema é que, com essa limitação, a maior parte da batalha se concentra em derrotar os inimigos somente com a Valquíria, fazendo o jogo ficar muito parecido com qualquer outro hack’n slash. E novamente, os einherjar sempre deram o toque de exclusividade nos outros jogos da franquia. Sendo assim, limitar o acesso a eles, acaba estragando um pouco a experiência.
Outro detalhe é que, na demonstração, só conseguimos utilizar os einherjar durante o capítulo de introdução. Em seguida, no primeiro capítulo, jogamos apenas com a Valquíria e isso reforça mais uma vez o estilo “genérico” do jogo, sem termos a chance de explorar mais dessa mecânica.

Batalhas, rápidas?
Por outro lado, existe um gancho utilizado na exploração que também pode ser utilizado durante as batalhas. De forma simples, é uma mecânica já conhecida para quem jogou Final Fantasy XV. Ou seja, você pode utilizar o gancho para se aproximar rapidamente dos inimigos e, em seguida, desferir golpes e magias. Isso, sem dúvidas, deixa a batalha muito mais rápida.
Agora, outro detalhe que joga novamente para o time “genérico” são as batalhas obrigatórias. Assim como acontece em Devil May Cry, existem algumas batalhas onde um campo de força te impede de fugir delas, ou então, é necessário derrotar inimigos para abrir uma porta. Quando são batalhas contra chefes, até entendemos que não é possível fugir, mas em Valkyrie Elysium, parece ter muitas batalhas obrigatórias. Então, ao juntar isso com a necessidade de ter que jogar o capítulo inteiro novamente, fica o sentimento de que é muito repetitivo.
E claro, para finalizar tem um ponto de Valkyrie que faltou na demonstração, justamente um dos mais importantes nas batalhas da série. Não temos nenhuma vez o uso de nenhum especial “purificador de alma”. Este é mais um grande diferencial da franquia, onde uma barra é carregada conforme os combos efetuados, e assim, utilizar um grande ataque especial.
Nesta demonstração, fiquei um tanto frustrado em encher a barra várias vezes e não ter nenhum especial para utilizar. Bom, ao menos sabemos existirá no jogo completo, pois no trailer, mostra a Valquíria utilizando o especial bem conhecido dos fãs, Nibelung Valesti.

Exploração
A exploração de Valkyrie Elysium é… Genérica! Veja bem, não é ruim! Mas também, não tem nenhum diferencial.
O grande problema é, novamente, comparar principalmente com os 2 primeiros jogos da franquia. Neles, mesmo a exploração sendo em 2D, lembrando às vezes jogos metroidvanias, tínhamos uma sensação de curiosidade ao explorar. Além disso, existia também a possibilidade de congelar as aparições de inimigos, aumentando a dinâmica de exploração.
Agora no Elysium, a Valquíria tem poucas ferramentas na exploração. Basicamente andar e pular, tendo também um gancho para utilizar em pontos específicos que brilham em azul. Novamente, não é ruim! Mas poderia ser melhor.
Um outro ponto na exploração, que deve ficar melhor na versão completa, é que o jogo tem a opção de resolver quebra cabeça com os einherjar. De certa forma, isso deve aumentar a profundidade e melhorar a exploração. Mas hoje, na demonstração, só utilizamos algumas poucas vezes na introdução.
E claro, falar de exploração também nos leva para as missões secundárias, novamente… Genéricas! Talvez seja um problema da versão de demonstração, ou talvez, eu esperava muito mais por gostar dos jogos clássicos. Mas a verdade é que, entrar novamente num mapa, com um caminho limitado, acaba passando a sensação de pouca inspiração.
A missão secundária poderia, por exemplo, ter a liberdade de entrar novamente no local anterior e, lá dentro, procurar por novos objetivos. E assim, realizar as missões secundárias sem ficar em uma parte reduzida do mapa.

Ranqueamento na missão
Outro ponto que mostra que o jogo está muito mais focado na ação é a pontuação e classificação no final da missão.
Novamente, assim como em Devil May Cry, finalizar um capítulo ou missão secundária, mostra um totalizador de pontos conforme o seu desempenho. Essa pontuação é calculada com a combinação do tempo de exploração e bons resultados nas batalhas (como por exemplo, não utilizar itens para recuperar energia e tomar pouco dano).
É basicamente mais um ponto para reforçar o formato atual do jogo. Porém, na demonstração não temos como saber o que mais essa pontuação pode influenciar no andamento e conquistas do jogo.

Trilha sonora
Este aqui é, sem dúvidas, o melhor ponto! De forma resumida: se já está bom na demonstração, só podemos imaginar que vai ser muito melhor no jogo completo!
Primeiramente, eu preciso reforçar que sou uma pessoa que gosta muito de jogos com trilhas sonoras marcantes. Por exemplo: quando joguei Horizon Zero Dawn e Forbidden West, uma das coisas que mais sentia falta era justamente de músicas mais empolgantes durante a exploração. Claro que isso muda completamente ao entrar em batalhas com as máquinas, ou mesmo, durante pontos importantes do jogo.
Em Valkyrie Elysium isso não aconteceu em nenhum momento. Isto pois, desde o início do jogo, a trilha sonora está alí, envolvendo o ambiente que está sendo explorado e as batalhas que estão ocorrendo.
Um detalhe muito interessante é que as músicas vão sofrendo pequenas alterações conforme o mapa que está sendo explorado. No capítulo da demonstração é possível notar que a música da primeira área é diferente da música quando chegamos na vila, que está destruída.
Ainda por cima, o jogo usa o mesmo formato adotado em Final Fantasy VII Remake, onde a música durante a batalha é uma versão mais “agitada” da mesma música do ambiente, mantendo então a mesma música e ao mesmo tempo, aumentando a tensão para o momento do combate.
Novamente, sem dúvidas, foi o ponto que eu mais gostei logo ao iniciar o jogo.

Porque logo agora?
Uma dúvida fica no ar: depois de tanto tempo sem um nenhum jogo da série Valkyrie, por que será que logo agora a Square Enix resolveu reviver a franquia? Talvez o fato da temática nórdica estar em alta pode ter influenciado isso? De certa forma, acredito que sim! Jogos como o atual God of War, Assassin’s Creed Valhalla e até mesmo Hellblade mostram o quanto os jogadores gostam do tema. Então, parece que a Square Enix aproveitou o momento para reviver a série.
Outro ponto que vale ressaltar é que, ser um hack’n slash também pode ajudar o jogo a atingir vários públicos. Assim, segue com foco na narrativa, diferente por exemplo, de um soulslike, que tem o foco constante em desafiar o jogador. Lembrando que o Valkyrie Elysium também tem opção de jogar no modo Difícil, para quem quiser uma aventura mais desafiadora (assim como acontece também em Devil May Cry).
Conclusão. Vale apena?
Para quem leu até aqui deve estar imaginando que, de forma alguma eu indicaria Valkyrie Elysium.
O fato é que, mesmo tendo pontos que tornam o jogo “genérico”, este ainda é um Valkyrie. No fim das contas, é importante saber que a série voltou e principalmente, está renovada, para que novas pessoas possam conhecer.
Inclusive, falando em renovação, acredito que a escolha de fazer um spin-off e não uma continuação direta, é justamente para que seja acessível até para quem não conhece os jogos antigos.
Ainda acredito que a demonstração poderia ter mais alguns pontos para realmente chamar atenção do público. Por exemplo: colocar o golpe especial ao menos no final de uma das batalhas. Isto poderia deixar uma impressão muito melhor sobre o que o jogo tem a oferecer. Outro ponto é que, comparado a demonstração de Trials of Mana (que também foi lançada pouco antes do jogo completo), Valkyrie merecia um pouquinho mais de polimento.
Por último acredito que eu, pessoalmente falando, vou comprar o jogo. Mas como recomendação, acredito que seja melhor esperar alguma promoção. Digo isto pois, de acordo com os pontos levantados nesta análise, comprar o jogo completo a preço “cheio” em seu lançamento, é assumir o risco de não gostar do jogo e acabar abandonando antes do final.
E claro, é possível que alguém diga “é um erro fazer uma análise e dizer se o jogo é bom ou ruim apenas com base na demonstração”. Mas aí eu pergunto, qual é mesmo a finalidade de uma demonstração? Verdade seja dita: essa é a versão para as pessoas decidirem se devem ou não comprar o produto final. Então, a análise com base neste produto é completamente válida.
